“Essa é uma resposta para comentários de que o Brasil não tinha condições de produzir o remédio (…) mesmo se ele (o preço do anti-retroviral nacional) for um pouco superior, a estratégia é importante. Reforça a indústria nacional, dá independência ao País”
José Gomes Temporão
Ministro da Saúde
O Estado de S. Paulo
17/SETEMBRO/08
Fiocruz consegue produzir Efavirenz
Um ano e 4 meses após a quebra de patente, pedido de registro do anti-retroviral foi encaminhado ontem à Anvisa
Lígia Formenti, BRASÍLIA
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conseguiu uma vitória científica aguardada há tempos por representantes da comunidade internacional e pelo governo brasileiro: a produção do genérico do anti-retroviral EFAVIRENZ. É o primeiro medicamento antiAids fabricado no País após a quebra de patente.
Ontem, a Fiocruz protocolou na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido do registro da versão genérica do remédio, cuja patente foi quebrada em maio de 2007. A expectativa é de que o Programa Nacional de DST-AIDS incorpore a versão nacional do medicamento tão logo os primeiros lotes estejam disponíveis, no primeiro semestre de 2009. O EFAVIRENZ é um dos 17 remédios que compõem o coquetel – as drogas associadas inibem a reprodução do HIV no sangue.
“Esta é uma resposta para comentários de que o Brasil não tinha condições de produzir o remédio”, afirmou ao Estado o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. A fabricação do EFAVIRENZ pela Fiocruz estava prevista para meados deste ano. Mas problemas no preparo da matéria-prima provocaram um atraso no cronograma. Na semana passada, com a aprovação de testes de biodisponibilidade e bioequivalência – essenciais para a fabricação do genérico – o processo para o registro do medicamento foi iniciado.
Antes da quebra de patente, o País gastava cerca de R$ 90 milhões com a compra do remédio, usado por 77 mil pacientes. Com a aquisição do genérico produzido na Índia, a economia superou os R$ 25 milhões anuais.
Agora, a agilidade da produção vai depender da análise do pedido de registro, sob responsabilidade da Anvisa. Como é de interesse público, o processo terá prioridade na avaliação. Os estoques do genérico indiano do EFAVIRENZ duram até meados de 2009. A idéia é que, terminado o estoque, a Fiocruz possa abastecer toda a demanda nacional como produto fabricado no País.
Temporão ainda não fala de preços. Mas garante que o genérico do EFAVIRENZ terá um custo “competitivo” com o medicamento que hoje é importado da Índia. “Mesmo que (o preço) seja um pouco superior, a estratégia é importante. Reforça a indústria nacional, dá independência ao País”, justificou o ministro. O preço do medicamento da Fiocruz, disse Temporão, “será infinitamente menor do que o remédio de marca”, produzido pela Merck.
O ministro acredita ainda que a produção do remédio traz boas perspectivas para a indústria nacional. “É uma aposta na parceria público-privada que deu certo.” O remédio é feito em conjunto com três laboratórios nacionais: Cristália, Nortec e Globequímica. As empresas ficaram encarregadas de produzir a matéria-prima e a Fiocruz, o produto final. “O Brasil é outro”, resumiu. Na avaliação do ministro, no cenário internacional, o País deixa de ser considerado um comprador para iniciar outro tipo de relação. “A de parcerias, produção em conjunto. Queremos que empresas venham aqui desenvolver produtos.”
NÚMEROS
R$ 90 milhões foi o valor gasto pelo Ministério da Saúde, em 2007, para a compra do EFAVIRENZ para cerca de 77 mil pacientes
US$ 1,56 a unidade era o valor cobrado pela Merck, fabricante do medicamento, enquanto o País reclamava que fosse cobrado valor igual ao da Tailândia: US$ 0,65
184 mil brasileiros recebem o coquetel gratuitamente pelo Ministério da Saúde
R$ 25 milhões anuais foram economizados pelo governo brasileiro com a aquisição do genérico produzido na Índia
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